quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Calor escarlate


O calor escarlate, anti-arte, torna o requinte escasso, cada vez mais raro, raios rubros, ruivos, rubis, rudes, rústicos, a ruptura, a ruga rúbida...
O sol escaldante, rubejante, rubescente forte, escarlate...
O calor , o rubor, larápio dos prazeres, ratoneiro do ópio,do opus, do latim da lascívia, da voluptuosa vontade, o calor é anti-arte, não permite o divino, o lírico, o rico, o frio, o alívio, papiros vazios, nostalgia, saudades sul-campestres, bucólicas lembranças...
Calor ríspido, rígido, rústico, rubro, rude e escarlate, escaldante e anti-arte...
A mente sã, suada, a pele pálida avermelhada, não cabe um chá matte, calor que derrete, o requinte, o chocolate, o calor , o rubor larápio dos prazeres, rústico, rubro, rude e escarlate, escaldante e anti-arte!

A fórmula da luz


O poder da mente , o poder do som, o poder da dança, horas e horas e horas num vale onde a verdade, não existe... a mente sempre vence o corpo e os copos de vodca. São muitas as formas de se embriagar, o som satisfaz como o sexo, a dança se move em seus músculos e a mente finalmente vence a dor física, o desconforto, sem nenhum esforço, nem remorso, o corpo se gasta, se mata de tanta vida... sorrisos coloridos, jovens, sacanas, óculos escuros , obscuros e obsoletos vêem movimentos intensos, hora involuntários, aprazíveis, sonolentos, comprimidos e livres, o indizível, o abstrato, num templo, num tempo onde o som é o senhor, se cansar é pecado , na velocidade do som, da fórmula da luz, embriagai-vos!

De folga de mim


Minha tristeza é tão nítida
Que passo aos olhos de quem não me conhece
Como uma pessoa tímida, discreta até...
Logo eu
Justo eu, devota da santa ignorância
Fiel ao exagero
Hoje não tenho pressa
Nem medo
Nem me sinto indefesa
Nem surpresa com isso
Hoje me desconheço
Hoje estou calada
Sem rir demais
Sem chorar
Hoje não faço drama
Nem me comovo com comerciais
Hoje não quis ler nenhum livro
Hoje estou de folga
Das minhas reclamações e paranóias
Hoje tive um dia normal
O que normalmente não acontece
Hoje não separo loucura de caretice
Hoje só sobrevivo
Não lamento nem sorrio
Estou cansada
Exausta
Hoje estou de folga
Dos meus problemas
E até dos meus sonhos
Hoje passei o dia só
E nada me fez falta
Hoje não exagero em gestos
E não respiro com prazer
Apenas existo, involuntariamente
Hoje cansei da morte e até da vida
Hoje sou uma estranha
Nada me importa
E não vejo beleza nem dor
Em nada
Não sinto pena nem remorso
Nem amor próprio
Amanha
Eu volto.

Viva La Vita!



Sinto saudades de arrumar as malas a qualquer hora, e sair, sem a menor certeza do que vai acontecer, embarcar e descer em algum outro lugar...
Ser nova aos olhos dos outros, e especular com mesmo animo, novos estranhos, e sentir surgir laços, o início de mais uma história a ser contada, assistir o que serão logo, lembranças... fazer história, fazer parte da história dos outros , e sair dali com a bagagem mais pesada, com a voz já embargada pela saudade nova, pra ser guardada junto a muitas já antigas... viver a vida com delicadeza e a fineza da simplicidade, dando requinte a belos fins de tarde, de prosas intermináveis e risadas incontáveis, de sentir a sorte de ter te encontrado, você que nem conheço e tenho medo, quando penso que te perco, por não poder ir agora, com isso deixo páginas vagas, pelos amores que perco, os momentos e tempos frios de ouvir boa música, tomando um vinho num lugarejo longe de tudo ou num bar de beira de estrada que toca um vinil do jethro tull, junto á amigos de jornada, a viajar em busca de sonhos, de música, de novas histórias, entre risadas bêbadas e uma conversa genial, saudades de estar viva, saudades dos grandes amigos que ainda permanecem desconhecidos, porque preciso esperar, preciso trabalhar nesta temporada, mas encontro vocês no caminho, caríssimos, por favor, mantenham-se vivos... e finalmente iremos nos encontrar, mais fortes, mais velhos é verdade e com isso mais convencidos de que não há nada mais lindo, não há nada mais lírico que a simplicidade, não há nada mais rico que levar na bagagem, apenas aquele velho casaco, cadernos rabiscados com registros diários e claro, olhar pro lado e ver aquele chato, aquele cara inacreditável , que é como criança e que único e inesquecível, espero logo partir com um bando desses comigo, pra abraçar bem forte e chamar ‘meu amigo!’... Enquanto isso, sigo me preparando para este grande encontro, a qualquer esquina da vida, sonhadores bucólicos, boêmios, pra ir passear e quem sabe parar numa colônia, na Itália... e colher uvas e dançar na festa da grande colheita, e fazer vinho , e dançar...e se olhar sorrindo parecendo não acreditar, ver crianças se divertindo no amarelado fraco, vindo dos últimos raios do sol daquela tarde, naquele lugar e brindar dando risada... infinitas saudades aos patrícios ainda desconhecidos, lhes encontro um dia, caríssimos e nossa sintonia soará uma doce sinfonia , e nossa voz alta, erguida junto às taças, brindarão palavras,ditas e devidamente obedecidas: “Viva La vita!”

P.S.: Até logo, queridos, tenho a certeza de encontra-los... e viver dias embriagados, regados a gentileza e alegria, sinto que são homens distintos, nobres, de trajes antigos e bucólicos... homens ligeiramente bêbados e sempre cheios de cortesia e fineza , cantando e cambaleando pela estrada ‘Roadhouse Blues’ dos Doors ... sujeitos com os defeitos que vou adorar suportar e com os sorrisos, que amo, desde já...

Intacta



Sinto-me presa, dentro de uma ampulheta, perdida nas areias, desertos perpétuos do tempo, o único que se move, e não morre. Mestre implacável que nos enruga , nos castiga, nos cura e nos ensina, consegue trazer morte á tudo quem vida, menos à arte, a esta, o tempo não se atreve, o mestre, se rende à metamorfose de Narcizo, amante do surrealismo, salvador.
Não se assusta com a fase da guerra, nem se desespera diante d’el espectro Del sex appeal e vê sua glória retratada na persistência da memória .
Tempo, velho que não chora e que nos olha, que nos roga, que nos curva, que nos leva as areias dos desertos, imensos, imersos que parece não ter fim, a prova de que milhares de ampulhetas se desfizeram , sem poder suportar o infinito, e mares de areia foram surgindo, neste, onde a vida é apenas uma miragem , e a única a que o tempo não se atreve tocar , é à arte! Esta permanece casta, intacta, eterna uma vez que o tempo não se atreve à ela.

Detalhes da natureza

Detalhes da natureza

Sou amante da duvida e dos livros que ainda não li, tenho mais apego pelo que não sei do que tenho pelo que penso que aprendi.
Adoro ouvir o nome de um autor desconhecido, me lembra que ainda restam tantos livros... tanto a ser visto, a ser lido, a ser dito. Creio que por isso, adoro moços com ar de superioridade, que discursam com prepotência, vejo graça neles...
Admiro a sabedoria desprovida da influencia perigosa de teorias que ninguém mais duvida, vinda da pureza do raciocínio somado as experiências vividas pelos raros sábios iletrados, é pura sua percepção, pouco contaminada pelos possíveis erros e preconceitos das idéias dos outros, a sabedoria pura, misturada, claro, à cultura , sotaque , regionalidade , crenças , lendas , temência às antigas histórias, hereges e horrendas , de modos e conseitos e herança de valores.
Não há nada que ainda permaneça Casto , tudo já foi contaminado, claro, mais ainda assim existem relatos caros de moços velhos que lêem o tempo através dos sinais escritos pela natureza, num idioma antigo, difícil de ser traduzido aos quatro ventos, nos quatro elementos, nas quatro estações, nos papiros abertos nos quatro braços da rosa dos ventos, no tempo.
A sabedoria daqueles que respeitam e cumprem seu ciclo, com a plena conciência de que somos apenas, entre tantos, detalhes da natureza.
E sigo estupefata, encantada com as palavras ditas desconhecendo as reformas literárias, ortográficas ou regras de gramática, mais ainda assim, eruditas.
Tempo esgotado

A terra treme
A sensação térmica da pele mórbida da vida morta que está por vir
Tremores de terra
Dias diminuídos
Extremamente quentes
Friamente frios
Falta d’água
Dias secos
Desertos novos sendo descobertos
Enchentes
Maremotos
Tsunamis
E terremotos
A terra treme
Sacudindo seus mortos
Engolidos por crateras ou embaixo de destroços
Caos
Desordem
Vidas destruídas
Ruínas
Dias de agonia
Ondas gigantes
Tremores e enchentes
Prédios e grandes impérios ao pó voltarão
Palácios e planaltos
Perecerão
A terra treme, reage
A terra responde
Mostrando que já é tarde
Prédios e grandes impérios ao pó voltarão
Em todos os continentes vejo todos os povos chorando seus mortos
Procurando migalhas de vida, em meio aos destroços
Crianças mutiladas, sem suas famílias nem suas casas
Caos
Finalmente virá
O dia em que seu dinheiro não poderá mais comprar
O dia em que o desespero irá chegar
Bancos moedas e notas
Não poderão pagar
A terra, não aceita moedas
A terra, que viu tantas guerras
Tecnologias suicidas
Poluentes, lixo e desperdício
Não ira se comover
Com o fim explícito
Homens gananciosos
Nações e grandes potências mundiais
Que só se preocupavam com poder
Veja seu império de desfazer
A terra treme
Pra lhe devolver o mal, que lhe foi causado
Dólares, não valerão nem um centavo
Euros não comprarão sequer uma gota de água
Notas e dólares não valerão nada
Em meio ao desespero
A terra treme
Lhe mostrando o quanto vale o seu dinheiro
Poderosos morrerão de sede, com milhões de cédulas nos bancos e nos bolsos
O dinheiro, finalmente, não poderá comprar
E a terra se lembrará
De homens que criavam bombas atômicas
Nem um pouco preocupados com o aquecimento da terra e o desequilíbrio das placas tectônicas
Agora choram
Enquanto a terra treme de desespero
A terra chora
E suas lágrimas alagam e trazem medo
A terra morre
E já não há mais nada
Que possa ser feito...