terça-feira, 26 de julho de 2011

Lágrimas de tinta

Virá
Há qualquer momento
O barulho do mar
Engolindo telas e monumentos
Ah, que mágoa
Tenho do mar
Que irá engolir
Que irá lavar
Que irá levar
Ah, só de pensar
Que a arte não vai suportar
Ondas avassaladoras
A te machucar
Roubando
Sua fragilidade
E por fim
Será tarde
Raridades
Jamais serão vistas
Artistas
Chorem lágrimas de tinta
Chorem a morte
De suas obras primas
Depois do fim
Onde estarão
Nossos retratos
Nossos quadros e Picassos
Onde estará escondida
Nossa eterna mona Lisa
Onde restará
O requinte
Da arte
Quem contará as histórias
De grandes mártires
Haverá asfixia
Vira a nostalgia
Vejo livros
Sendo engolidos
Pelo mar
Ah, como me desespera pensar
Que poetas mortos
Vão enfim morrer
Que artistas póstumos
Vão perecer
Quem contará nossa história?
Quem dirá heresias
Em nossa memória?
Preciso
Que restem vestígios
Livros e Picassos escondidos
Depois do fim
Haverá um novo início
Já teremos sido extintos
Oh mar
Suplico
Que deixe escondido
Sequer um manuscrito
Que revele
A dor que sinto
A beleza da vida
A pureza da arte
De ter existido
Que reste
Pelo menos um disco
Não posso suportar
A arte morta
A música muda
Uma platéia surda
As Flores do mal
Murchas
E decompostas
Não posso sepultar
Poesias mortas
Não posso suportar
O mar dissolvendo
A tinta
Das últimas pinceladas
Do artista
O mar beijando
O sorriso falso
Dos lábios de Mona Lisa
Preciso
Que reste um vestígio
Um resquício do vinho
Da santa ceia
De Da Vinci
Que conte
Que fomos feitos e filhos
Da arte
E do requinte
Imagino
Que será ouvido
Um Blues infinito
E temo
Que jamais poderá se contemplar
Quadros e livros
Criadores e pintores
Chorem lágrimas de tinta
Que cairão na terra
Pintando a última tela
De suas vidas
Chorem a morte
De suas obras primas
Pois temo
Que não haja feitiço
Que possa sanar
Tamanho malefício
Ah, como gostaria
Que fosse delírio
Da minha mente
Mas, vejo livros
Perdidos
Pra Sempre...

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